Os Doze Passos de A.A.

Retomando nosso contato, pensamos ser este um bom momento para apresentar-lhe, de forma comentada, os Doze Passos sugeridos por Alcoólicos Anônimos para reabilitação do alcoolismo.

Em meados de 1937, cerca de 40 alcoólicos estavam conseguindo manter sua sobriedade junto a dois pequenos grupos formados em Nova Iorque e Akron, a partir dos quais nasceria a Irmandade hoje mundial.

Todos concordaram que era tempo de expressar, de forma clara, completa e simples, os princípios através dos quais estavam conseguindo alcançar e manter uma vida sóbria, feliz e útil.

Não havia nada rigorosamente novo em tais princípios, exceto o fato de estarem sendo praticados entre iguais – sobreviventes de situações-limite e desejosos de uma plena reintegração à vida. Assim, em meio ao rico, conflitivo e plural processo coletivo de debates e redação do primeiro e principal livro de A.A., lançado em 1939, foram enunciados seus Doze Passos.

Um novo modo de vida

Se pudermos compreendê-los em seu conjunto — e para além da linguagem e das expressões típicas da cultura norte-americana do século passado —, veremos que, basicamente, os Doze Passos de A.A. propõem uma profunda transformação pessoal, a um só tempo comportamental e psíquica. Que pode ser alcançada a partir de dinâmicas e ritmos estritamente individuais e únicos, porém, não solitariamente, mas através da participação nos grupos de compartilhamento de experiências, forças e esperanças.

Tal transformação é deflagrada por um honesto reconhecimento das realidades do próprio alcoolismo, seguido de uma disposição diária para abster-se do álcool e de tudo quanto possa levar a ele: “Admitimos que éramos impotentes perante o álcool – que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas”. (1º Passo).

Consequentemente, faz-se necessária certa abertura para novas e desejáveis possibilidades: de hábitos, relações, crenças, pontos de vista, desejos etc, através do reconhecimento de um poder ou força superior a si mesmo e da subsequente capacidade de relativização e distanciamento crítico dos próprios modos de ser, conscientizando-se de que é possível alcançar algum domínio sobre as próprias ações, mas não sobre seus resultados: “Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade”; “Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos”. (2º e 3º Passos – o grifo é original e pretende sublinhar a completa liberdade de cada membro quanto a essa concepção: um poder superior a si mesmo pode ser a ciência em seu todo; uma coletividade humana: um credo religioso, um grupo ou a Irmandade de A.A.; as forças da natureza; o cosmo ou qualquer outra concepção). Ainda, a entrega da vida e da vontade a tal poder pode ser compreendida como uma imagem simples cujo efeito é tão somente possibilitar, a cada indivíduo, a permanente consciência de que seus pontos de vista, crenças e posturas não são verdades absolutas, mas relativas, podendo, naturalmente, evoluir.

Ainda, é preciso inventariar a vida para melhor conhecer a própria personalidade (4º Passo), compartilhando esse histórico singular com alguém confiável, com a finalidade de ponderá-los em face de um ponto de vista alternativo sobre si mesmo: “Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos”; “Admitimos, perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas”. (5º Passo).

O próximo e natural movimento é em busca do aperfeiçoamento contínuo do próprio ser: “Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter”; “Humildemente, rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições” (6º e 7º Passos). Este movimento requer seja realizado, ainda, o acerto de contas possível com o próprio passado, criteriosamente reparando danos causados a si e a outrem: “Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos causados”; “Fizemos reparações diretas a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudica-las ou a outrem” (8º e 9º Passos).

Por fim, a manutenção da sobriedade em longo prazo requer que esse conjunto de novas atitudes seja adotado como modo de vida. Sugere-se, então: a) inventários regulares – “Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente” (10º Passo); b) a preservação da perspectiva realista e crítica sobre si mesmo por meio de práticas tradicionais – “Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós e forças para realizar essa vontade” (11º Passo);  e c) autossustentação da própria sobriedade, passando-se adiante e gratuitamente, a outros alcoólicos, tudo quanto se recebeu gratuitamente através da pertença a um dos grupos de mútua ajuda – “Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a esses passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades” (12º Passo).

Suporte na prática dos Doze Passos

Além da convivência e das reuniões oferecidas nos grupos, e além da sua literatura oficial, Alcoólicos Anônimos dispõe de um recurso considerado valioso no processo de adesão e prática dos Doze Passos, em especial no caso dos recém-chegados: o chamado apadrinhamento, um vínculo pessoal entre um membro mais experiente e um alcoólico novato em A.A., capaz de trazer benefícios tanto para quem apadrinha quanto para quem é apadrinhado. Esta ferramenta complementar será objeto de nossa próxima newsletter.

Agradecemos por sua atenção, esperando ter-lhe trazido informações de algum modo úteis!

 

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 Fraternalmente,

Comitê Trabalhando com os Outros

Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil.